quinta-feira, 1 de março de 2012

Entrevista com o pianista André Mehmari



Daniela Aragão: Oi André, é um prazer e uma honra conversar com você que é o terceiro pianista a ser entrevistado. Márcio Hallack e Cristovão Bastos já passaram por aqui e falaram sobre suas músicas, projetos e apreciações. Recordo-me de que nos conhecemos na ocasião da homenagem ao Cacaso realizada pela Rosa Emília no CCBB do Rio, você participou do espetáculo acompanhando Paula Santoro, Claudio Nucci, Rosa Emília, Sergio Santos entre outros. Gosto imensamente da sua maneira de tocar que parece aliar o popular e o erudito, enfim, como começou a música wm sua vida?

André Mehmari:Minha vida começou no banquinho do piano, literalmente. Minha mãe iniciou o trabalho de parto enquanto tocava algo no piano Bentley que meu pai havia presenteado a ela quando soube da gravidez. Podia ser Chopin, Nazareth ou Jobim mas ela não se lembra. Não venho de família de músicos, mas ela garantiu um ambiente musical rico e variado em casa, tocando piano, violão, acordeom (seu primeiro instrumento) e cantando.

Daniela Aragão: Você parece-me um pianista de formação clássica que no percurso foi incorporando outras vertentes como o jazz. Como se deu sua formação?


André Mehmari:Na verdade deu-se algo muito próximo do inverso disso que você descreve. Minha formação foi bastante irregular e singular. Comecei por um curso de órgão eletrônico, febre dos anos 80 e já saí tocando em bailes aos 9, 10 anos de idade... na adolescência mergulhei nos clássicos e me enamorei do jazz. O ímpeto de improvisador sempre existiu em mim. Desde a infância, assimilei todo tipo de música ao meu redor, sem rótulos nem pré julgamentos. Isso se reflete na música que faço hoje.


Daniela Aragão: Você também compõe trilhas para cinema e peças eruditas, como foi a experiência de compor e gravar a música do ballet “Sete” para a Companhia Paulista de dança?


André Mehmari: Compus já quatro balés: Sete, Bach, Abacada e Ballo. Este ano escreverei mais um. É algo muito rico para o compositor, esse namoro com o movimento do corpo humano, com a dança. O que veio primeiro, a dança ou a música? Essas artes são irmãs e se adoram.

Daniela Aragão: Um de seus trabalhos que mais me encantou foi o que desenvolveu ao lado da cantora Ná Ozzetti, somente o duo piano e voz e uma cumplicidade musical plena que deixa evidente para o ouvinte o trato delicado de cada nuance da melodia. O ciúme de Caetano Veloso ganha uma versão impactante de vocês. Como foi trabalhar com uma cantora como Ná Ozzetti?

André Mehmari: Este trabalho é importantíssimo nas nossas carreiras. O trabalho com a Ná foi sempre muito fluente e natural, desde a escolha das canções que abordaríamos no nosso CD piano e voz. De fato, trata-se de um trabalho onde cada nota tem sua razão de existir, tudo foi muito bem cuidado e gestado, pois registramos todos os ensaios até o dia do primeiro concerto. Isso nos deu um controle sobre o amadurecimento profundo do processo criativo, um recurso que só o tempo permite. O CD e o DVD são discos dos quais me orgulho muito e a Ná tem sido uma parceira constante em minha carreira.

Daniela Aragão: Você é muito jovem e certamente com muitos projetos pela frente. Na vertente mais direcionada para a música popular brasileira, qual trabalho você sonha em realizar?

André Mehmari:Não me vejo encaixado (literalmente) numa vertente ou linha musical. Tenho uma natureza inquieta, transito por ambientes musicais muito variados e distintos, aprendo com tudo e todos, filtro o que não gosto e minha música é o resultado dessa vivência musical rica e intensa. Gosto de música bonita, boa e inteligente.

Daniela Aragão: Você já gravou um disco inteiramente autoral?


André Mehmari: ...De árvores e valsas (2008) é o primeiro projeto totalmente dedicado a composições próprias. Mais recentemente, o Canteiro também é só de coisas minhas, todas dialogando com a tradição da canção, algo que me é muito caro.


Daniela Aragão:Quais são os projetos atuais?

O lançamento do CD duplo Canteiro, a finalização do novo CD com Chico Pinheiro e Sérgio Santos, previsto ainda para este ano e muitas composições e e encomendas já em andamento, para orquestras e grupos variados.