terça-feira, 23 de dezembro de 2008

Início: Bossa Nova, Fino da Bossa, Tropicalismo




É sol, é sal, é sul". Estamos em 1958. Enquanto Elis permanecia ocupando seu posto de garota-sensação em Porto Alegre, cantando antigos sambas canções e boleros, na zona sul do Rio de Janeiro cantores, compositores, instrumentistas, enfim, toda uma safra musical interessada na renovação da música popular brasileira passou a se reunir, compor canções modernas iniciando o revolucionário movimento que se autodenominou Bossa Nova. Com João Gilberto, baiano de juazeiro, nasce a batida diferente que, aliada a uma interpretação soft e cool, nos remete aos afinados e harmônicos sussurros de Chet Baker e Julie London.

João Gilberto é o mais completo representante dessa nova modalidade musical porque inova ritmicamente no violão e na leveza do canto. A Bossa Nova, portanto, abriu um novo caminho estético para a música popular brasileira, até então estratificada e apenas retratando o cotidiano popular de forma simples e na maioria das vezes trágica, com poucos rebuscamentos melódicos, salvo, naturalmente exceções do quilate de um Dorival Caymmi, Ary Barroso, Pixinguinha, entre outros. A Bossa Nova chegou senhora de si, firme e forte. Havia espaço para a sua modernidade. O país naquele instante permitia vôos maiores. A era JK. Com Juscelino Kubitschek o Brasil vivia um governo de afirmação nacionalista, tentava ordenar o progresso, buscava o crescimento econômico. A Bossa Nova valorizou o lúdico e o denso. Ainda que cantasse o amor, o sorriso e a flor, a palavra de ordem de uma pequena parcela da juventude carioca, por vezes até mesmo alienada quanto à realidade social do país, a Bossa Nova inovou, deu consistência ao texto da canção, quer em seus brejeiros lobos-bobos ou no viniciano verso onde a felicidade é como "gota de orvalho numa pétala de flor". Vinicius de Moraes é de fato e de direito o responsável pelo parâmetro qualitativo das letras da Bossa Nova. Enriqueceu melodias de jovens compositores como Edu Lobo, Francis Hime, entre outros e influenciou várias gerações de novos letristas que nele se espelhavam na arte de bem versejar as canções:

Vai minha tristeza
E diz a ela que sem ela não pode ser
Diz-lhe numa prece
Que ela regresse
Porque eu não posso mais sofrer

Toda concepção de canto mudaria. A excessiva teatralização, o arrebatamento melodramático, o ranço operístico e a voz afetada dos cantores sairiam de moda. O cantor sintonizado com a Bossa Nova assumiria uma posição de relevo em oposição ao estilo anterior, agora ele seria necessariamente uma espécie de co-participante da elaboração musical, não procurando mais se afirmar ou se sobrepor a própria obra. O estilo cool de cantar "... coíbe o personalismo em favor de uma real integração do canto na obra musical" (CAMPOS, 1968). Poderíamos dizer que a proposta musical de João Gilberto equivale a proposta poética de um outro João. A bossa gilbertiana e a poética cabralina procuram eliminar todos os resíduos sentimentais, ambas querem a precisão, a concretude, a síntese:

O cante a palo seco
É um cante desarmado
Só a lâmina da voz
Sem a arma do braço

Elis Regina, contrariamente aos princípios básicos da Bossa Nova, se tornará famosa pela lâmina de sua voz hot e pela arma do braço. Revelou-se em 1965 quando venceu o Primeiro Festival de Música Popular, da Tv Excelsior, interpretando Arrastão.

O sucesso foi tão grande e imediato que logo passou a integrar o fechado círculo dos cantores famosos. Elis passou a ser motivo de cobiça das emissoras de televisão, rádios e multinacionais do disco. Portanto, nada mais conseqüente do que o programa televisivo O fino da Bossa (ao lado do pouco expressivo sambista Jair Rodrigues, Elis comandava o espetáculo de auditório da TV Record) que bateu recordes de audiência bem como de vendas dos LPs do referido programa.

A presença cênica de Elis foi motivo de controvérsia. Explica-se : os produtores dos shows que fazia no lendário Beco das garrafas (Mieli e Bôscoli) queriam tirar o ranço provinciano da cantora; e quem respondeu pela sua transformação de postura foi o coreógrafo norte-americano Lennie Dale. Esta performance gerou uma encenação exagerada que logo o público batizou-a de Eliscóptero.

Elis Regina foi a primeira cantora da MPB moderna a se popularizar através do veículo televisivo. Em contrapartida este sucesso contribuiu para um certo desgaste e deturpação de sua imagem. A fórmula do showbusiness sempre apelou para o ibope a qualquer preço, ainda que em detrimento da qualidade. O apelo ao comercialismo televisivo destruiu a originalidade e o vanguardismo do programa O fino da Bossa, que foi se tornando cada vez mais previsível e até mesmo caricatural. Elis Regina, por um momento, transformou-se no protótipo do exagero:

A gesticulação de expressiva passou a ser francamente expressionista, incluido, à maneira de certos cantores norte americanos, movimentos de regência musical, indicativos de paradas, ou entradas dos conjuntos acompanhantes, ou ainda sublinhando imitativamente passagens da letra da música, numa ênfase quase declamatória. (CAMPOS, 1968)

Elis durante toda a carreira manteve a integridade de sua arte. Não se deixou levar pelas baratas e oportunistas solicitações do marketing vigente; ainda assim ela demorou a impor em definitivo a força de sua arte.

Eu cantava uma coisa alô, alô Carmem Miranda e botaram um baile de carnaval e uma mulher fantasiada dançando com umas bananas na cabeça, feito louca. Você vai cantar Atrás da Porta e eles põem você atrás da porta. ( PASQUIM, 1982)


A cultura pós moderna possui "... O entretenimento como ideologia, o espetáculo como signo da forma mercadoria...". Elis , consciente do mecanismo de exploração que constitui a moderna sociedade de consumo, expressava indignação e inconformismo:

Profissionalmente resolvi assumir o papel de palhaço. Sei da minha condição de bobo da corte e vou levar isso adiante, até o dia em que me tomarem os guizos.

De 1965 a 1970 Elis freqüentou os lares dos país através das telas de televisão. Mas no momento em que sentiu que não estava acrescentando nada ao veículo ( e vice-versa) se afastou:

Acho que pertenço à primeira geração que enfrentou o problema de centralização dos programas da TV, com a chegada do vídeo teipe, emissoras independentes passaram a ser apenas retransmissoras. Independente de ter um custo operacional muito baixo, existia o ditado santo de casa nunca faz milagre. A primeira providência tomada foi desfazer o departamento musical. Além disso, eu era apenas um número: chegava, cantava e saía.

A carreira de Elis foi sempre pautada por pressões, imposições arrufos. Quase sempre este leque de autoritarismo partia do esquema, pode-se dizer neurótico, da televisão. Ao mesmo tempo a cantora sabia que a relação com o público a cada dia se tornava mais virtual, logo seria quase impossível a um artista não ceder às vontades e aos desmandos televisivos. A linguagem musical pós-moderna está diretamente vinculada à imagem, aos acelerados e desconexos videoclipes que dentro do circuito de divulgação e propaganda musical exercem um papel de cartão de visitas. O caráter de espetáculo que a televisão e o videoclipe transmite deturpa e desconstrói a verdadeira concepção de música; em diversas ocasiões as imagens que se sucedem no espaço das telas não correspondem à proposta do compositor ou até mesmo do intérprete. Neste universo que se afirma e exalta pela predominância do efêmero, vale mais o impacto do instante; inexistem os tempos passado e futuro, o artista pode passar da condição in a out em frações de segundos. Não sabemos se restará algo para a posteridade. Elis conclui esse assunto de maneira pessimista e cética: "Nós artistas, não vamos mais ter lugar no mundo, seremos apenas um colírio, mero lazer. Isso é muito triste, mas não vejo saídas."

A frase acima revela uma Elis Regina desencantada com o futuro do artista diante do avanço tecnológico, por vezes inibidor e mercantilista, a tolher a sensibilidade de quem cria. Apesar de queixas e lamúrias, Elis viveu também momentos de encantamento e interação musical. Assim foi o LP Tom e Elis (1974), presente da gravadora Philips pelos 10 anos de sucesso de venda e crítica. Este registro feito em Los Angeles com os mais avançados recursos é certamente o ponto alto de sua carreira:

... foram momentos vividos por duas pessoas muito tensas que só conseguem se descontrair através da música. Ficou a saudade de um passado recente, em que as cores eram outras e as pessoas mais felizes. ( Tom e Elis, Philips, 1974)

Na música popular brasileira de hoje somos todos conseqüência da coragem de um Jobim. (Elis Regina)

Elis não foi só a melhor cantora do país. De antenas ligadas na produção musical dos compositores iniciantes revelou e gravou desconhecidos que imediatamente passaram a ocupar espaço em nosso cancioneiro. Milton Nascimento, Ivan Lins, João Bosco, Gonzaguinha, Fagner, Renato Teixeira, Belchior, entre outros, são diletos filhos da cantora. O seu olho clínico, uma espécie de antevisão de qualidade, sempre rendeu saborosos frutos. Quem não se lembra, por exemplo, de Canção do sal, Cartomante, Agnus Sei, Redescobrir, Mucuripe, Romaria e Como nossos pais? A força, o poder de sedução de Elis era tão grande que Milton Nascimento chegou a declarar que tudo que fazia era para sua diva.

O Tropicalismo toma de assalto a cena musical brasileira. Alicerçado nas experiências da contracultura norte-americana ( Woodstock, LSD, psicodelismo, power flower, peace and love) e alimentado pelo vanguardismo do pós-concretismo ( Haroldo de Camppos, Augusto de Campos e Décio Pignatari), os baianos Caetano Veloso, Gilberto Gil, Gal Costa e Tom Zé, além do poeta Torquato Neto, decidiram virar a mesa. Elis Regina demorou a entender o que de fato propunha o movimento tropicalista, preocupou-se mais em reagir contra o aparato cênico chocante e transgressor do que com o sustancial; se a cantora tivesse logo compreendido que por detrás daquela azáfama ensurdecedora dos jovens cabeludos existia uma crítica profundamente lúcida ao processo de dependência cultural brasileira, talvez ela não demorasse tanto a se manifestar:

O negócio que o Caetano estava fazendo estava mexendo demais comigo, eu fiquei muito agitada, não entendendo o que estava acontecendo. Realmente balançou o meu coreto...Eu parei, pensei e disse: é ele está certíssimo.


O Tropicalismo surgiu em fins da década de 60, mais precisamente em 1967 quando as canções Alegria Alegria, de Caetano Veloso e Domingo no Parque, de Gilberto Gil, foram lançadas no Terceiro Festival de Música Popular Brasileira da TV Record. O alto teor de subversão do repertório tropicalista se distinguia do tom lírico-harmônico conformista que estavamos acostumados a ouvir nos tempos idílicos em que reinava a Bossa Nova. Após a euforia desenvolvimentista que alimentava um Brasil de sonhos, expectativas e aspirações libertárias, viveríamos um prolongado período de inquietação. Conscientes de toda a falência dos mitos nacionalistas e dos impasses do processo cultural brasileiro, os baianos elaboraram a expressão da "crise". O universal, o múltiplo e o cromático dos espaços pós-modernos são analisados pelo Tropicalismo que procurou transcender o âmbito da música popular. Sob a inspiração antropofágica os baianos reuniram elementos diversos da cultura brasileira que, acrescentados à influência de movimentos culturais e políticos que eclodiam nos EUA e Europa, colocaram em evidência as inúmeras contradições históricas, ideológicas e artísticas de nossa cultura. De acordo com Caetano Veloso o Tropicalismo procurou retomar a linha evolutiva iniciada pela Bossa Nova que se encontrava oscilante entre a tradição e a modernidade. A MpB se tornara um reduto onde coexistiam arcaicos sambas quadrados e harmonias modernas sofisticadissimas. O procedimento tropicalista ambicionou justamente mexer e sistematizar a linguagem do cancioneiro popular através da conquista de uma atual que expressasse os problemas do tempo presente, o aqui e agora. Implantando a ruptura com a temática de tradição romântica e nostálgica, revolucionou o corpo e as atitudes através de um comportamento ousado e transgressivo. O grande mérito do Tropicalismo foi com certeza elevar o nível de crítica da música popular brasileira, colocando-a no mesmo patamar de discussão que havia por exemplo nos setores de cinema e teatro.

No cinema assistiamos também a explosão anárquica do delirante, louco, surrealista, iconoclasta, onírico, barroco e utópico Glauber Rocha. As inovações estéticas do Cinema Novo influenciaram em grande parte o movimento tropicalista. Segundo João Carlos Teixeira Gomes:

Glauber utilizou-se sempre de uma linguagem profusamente simbólica em que apesar da complexidade formal de seus filmes revelava processos criativos extremamente conscientes. Sua obra é um cruzamento de diversas influências literárias, teatrais, musicais e artísticas, com uma mundividência calcada nas experiências baianas e nordestinas.

O cineasta em sua existência dramática e conturbada mostrou uma intensa fidelidade às questões brasileiras. Como ele mesmo afirmava, possuía uma concepção épica e trágica da vida, transitava num labirinto ora de dor e brutalidade (estética da fome), ora de transcendência e transfiguração (estética do sonho).

Como já foi dito Elis Regina demorou a se entender cordialmente com os tropicalistas. No lp Ela convivem diversas tendências musicais. De Dolores Duran, compositora pré Bossa-Nova (Estrada do sol com Tom Jobim) ao tropicalista Caetano Veloso, Os Argonautas, Cinema Olympia, passando por Roberto e Erasmo Carlos Mundo Deserto, há um mix do que estava acontecendo naquele momento. O produtor Nelson Motta soube reunir no repertório de Elis todas as tendências musicais, colocando-as novamente na linha de frente, sem radicalismo pois. Em Golden Slumbers ela admite a importância dos Beatles, o que certos setores da música popular há tempos reclamavam. Elis, em hipótese alguma, ao se queixar sobre a utilização da guitarra e outros artifícios modernizantes pelo Tropicalismo, mostrava-se reacionário ou intransigente. O que ela temia era justamente a massificação, descaracterização e queda de qualidade da música popular brasileira invadida pelos hits norte-americanos:

É, aí pinta muita guitarra no samba, é a chegada da ordem de fora mesmo. Vamos faturar porque isso é um negócio como outro qualquer. Quer dizer, o romantismo foi pro brejo. Dane-se se você gosta de samba, vai começar a gostar de samba com guitarra agora. Começa a massificação. Toca de manhã no rádio, de tarde, de madrugada. Daqui a pouco está todo mundo achando ótimo. ( Elis Regina por Ela mesma, São Paulo 1995)

Durante os primeiros anos da década de 70 Elis Regina participou ativamente dos circuitos universitários decidida a divulgar a nova safra de talentosos compositores. O público a ser atingido obviamente era de gosto apurado, acima da média do ouvinte brasileiro. Esta evidência sociológica não foi bem entendida (ou distorcida) pela crítica. Não faltavam vozes que a acusavam de ser elitista e preconceituosa:

Naquela época por exemplo não havia os circuitos universitários, hoje, em dois meses, você visita quarenta cidades e canta para mais de 100.000 pessoas. O artista era obrigado, por falta de mercado e alternativa, a se dedicar exclusivamente a televisão. ( Elis por ela mesma, São Paulo 1995)

A gente é uim país pobre, com 80% de analfabetos, mas é pretencioso. Esse percentual que vai as universidades é que dita as regras, que dá as ordens, dita moda, discrimina...E eu nunca fui marionete, nem tive vocação.

Também não podemos nos esquecer da importância exercida pelos circuitos universitários para a divulgação da música popular brasileira. Foram presenças constantes atuais celebridades como João Bosco, Renato Teixeira, Ivan Lins, Gonzaguinha, entre outros. Antena ligada, ouvido apuradíssimo, Elis esteve acompanhando a evolução dos novos independentes. Gravou com os mineiros do Clube da Esquina, com o irreverente Tim Maia e não se esquecia de incentivar as últimas novidades, fossem elas o timbre raro de Tetê Espíndola ou as harmonias elaboradas de Arrigo Barnabé:

O Arrigo chegou num momento em que ele percebeu que a contracultura estava sendo assimilada, e desse jogo eu não quero participar, ser taxada de integrante da cultura oficial, que está diluindo as coisas novas ... acho que é preciso saber a hora de tirar o time de campo e permitir que esta contracultura estoure e auxilie a renovação geral.

Embora o instrumento de Elis fosse a lâmina ácida e cortante de sua voz, o quase total desconhecimento de teoria musical não impedia que ela pensasse como músico devido a sua extrema sensibilidade, intuição e musicalidade. A cantora chegou a exigir tanto de si própria (depuração técnica do canto) que Gilberto Gil em certa ocasião enviou-lhe um recado, uma espécie de meta-canção em que solicitava a Elis o alívio das tensões, o simplesmente cantar:" O compositor me disse que eu cantasse distraidamente essa canção/ ...que eu cantasse ligada no vento sem ligar pras coisas que ele quis dizer". Uma das características marcantes de sua trajetória é a evolução vocal. Desde os primeiros registros com apenas dezesseis anos, timbre ainda juvenil, percebe-se claramente a potência e a segurança na emissão das notas. Elis na plenitude da carreira mereceu comentários definitivos como este:

Elis foi uma das poucas cantoras que conheci que tinha cabeça de músico. Era uma cantora que não sabia harmonia mas sabia harmonizar, sabia quando o acorde estava errado, sabia arranjar. Ritmo perfeito, timing perfeito. (Edu Lobo Em entevista a TV Manchete, 1982)

De Viva a Brotolândia a Trem Azul (último disco) Elis alcança a perfeição técnica e traz em cada canção o sentimento à flor da pele. Ela percebia que a qualidade musical estava sendo renegada a favor do som pasteurizado, mesmo assim não deixava a novidade escapulir, passar batida. A capacidade musical era tanta que exercia até uma função, digamos, co-autoral. Transformava uma canção apenas singela em algo interessante através de sua interpretação definitiva. Admirava os clássicos Ary Barroso, Nélson Cavaquinho e Cartola como também dava a vida a compositores pouco relevantes, cite-se Guilherme Arantes. O talento co-autoral de Elis Regina era tão marcante que muuitos compositores se espantavam com as possibilidades da própria canção. Elis, as vezes, imprimia tons dramáticos ou irônicos às músicas de acordo com o que sentia ao dissecar a composição a ser passada ao público:

A primeira vez que Elis nos pediu uma música, fizemos Alô Alô Marciano. Ela avisou que queria uma coisa nossa, não uma coisa para ela. Quando Elis nos mostrou a gravação, estava bem diferente do que tínhamos feito. Ritmo, tudo. Ficamos chapados, aonde ela foi naquilo tudo. Foi aquela coisa de dar uma pincelada, fazer os comics dela. (Rita Lee em Furação Elis).

Elis sempre foi acompanhada pelos melhores músicos e arranjadores. A união afetiva e musical com o pianista e arranjador César Camargo Mariano, segundo marido, gerou trabalhos belíssimos. Com César realizou espetáculos memoráveis como Falso Brilhante, que ficou em cartaz por mais de dois anos. Este show exigiu de Elis uma profundo trabalho corporal, sob as orientações da conceituada diretora Mirian Muniz e do psiquiatra Roberto Freire, ela entregou-se a exercícios pesadíssimos de desinibição e expressão corporal, o que contribuiu profundamente para a libertação da rigidez que a classificava como cantora técnica e fria, favorecendo a exatidão de seu posicionamento cênico. Com Falso Brilhante Elis inicia um tipo de espetáculo que apresenta cada vez mais recursos teatrais. São bailarinos, atores incorporados à cena, músicos que se movimentam no palco, canções que Elis exaure até o último acorde.

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